Disciplina de graduação do curso de filosofia da Unicamp, primeiro semestre de 2020
Tópicos
Especiais de Filosofia Geral: Filosofia e
Literatura. A filosofia na obra de Jorge Luis Borges. Entre o pensamento e a
ficção.
Data:
segunda-feira 19.00 horas
Professor:
Daniel Omar Perez
Ementa:
Os escritos de Borges denotam invariavelmente uma relação íntima com os
problemas da filosofia. As leituras de Swedenborg, Hume, Miguel de Unamuno,
Schopenhauer, Angelus Silesius ou Heráclito, (só para citar alguns clássicos)
intervém em cada reflexão. Mas não diríamos nada se apenas afirmássemos uma
espécie de vocação especulativa ou o simples jogo de uma curiosidade literária.
Há uma preocupação que exige determinadas tomadas de posição. Os escritos dos
comentadores sobre este aspecto abrangem quase tudo o leque de filiações
possíveis. Jaime Rest decide que Borges pertence ao nominalismo da filosofia
analítica anglo-saxoã[1],
Ana Maria Barrenechea sugere o panteísmo niilista[2]
para explicar o pensamento de Borges, já o crítico Jaime Alazraki pensa que o
spinozismo expressa bem a reflexão do nosso escritor[3],
entretanto, Juan Nuño postula o platonismo para explicar o nosso interrogante[4]. A
lista de variedades poderia continuar mostrando múltiplas leituras e recortes
do texto borgeseano. O próprio Borges também tinha várias versões da sua
relação com a filosofia. Geralmente se apresentava nas entrevistas como um
cético. Em um diálogo com Maria Esther Vazquez, em 1973, Borges fez a seguinte
declaração: “Yo no tengo ninguna teoría
del mundo. En general, como yo he usado los diversos sistemas metafísicos y
teológicos para fines literarios los lectores han creído que yo profesaba esos
sistemas, cuando realmente lo único que he hecho ha sido aprovecharlos para
esos fines, nada más. Además,
si yo tuviera que definirme, me definiría como un agnóstico, es decir, una
persona que no cree que el conocimiento sea posible”[5]. Esse é o tom da escrita que
utilizou, por exemplo, na Historia de la Eternidad (1936) onde o
tratamento dos argumentos chega a passar da ironia ao humor. Não podemos
esquecer aqui a análise feita sobre as teorias nietzscheanas do eterno retorno
em La doctrina de los ciclos. Nesse escrito Borges procura contrapor a
segunda lei da termodinâmica à doutrina nietzscheana do retorno do mesmo
mostrando a fraqueza dos argumentos do filósofo pelo absurdo. Por outro lado,
nas Notas do livro Discusión (1932) está escrito: “Yo he
compilado alguna vez una antología de la literatura fantástica. Admito que esa obra es de las poquísimas que un
segundo Noe debería salvar de un segundo diluvio, pero delato la culpable
omisión de los insospechados y mayores maestros del género: Parménides, Platón,
Juan Escoto de Erígena, Alberto Magno, Spinoza, Leibniz, Kant, Francis Bradley.
En efecto, que son los prodigios de Wells o de Edgar Allan Poe –una flor que
nos llega del porvenir, un muerto sometido a la hipnosis- confrontados con la
invención de Dios, con la teoría laboriosa de un ser que de algún modo es tres
y que solitariamente perdura fuera del tiempo? Que es la piedra beozar
ante la armonía preestablecida, quien es el unicornio ante la Trinidad, quien
es Lucio Apuleyo ante los multiplicadores de Budas del Gran Vehículo, que son
todas las noches de Shahrazad junto a un argumento de Berkeley?”[6]
Esta
declaração parece ir ao encontro de outro escrito borgeseano de Ficciones
(1944) onde Borges diz que em Tlön, Uqbar, Orbis Tertius a metafísica é um tipo
de literatura fantástica[7],
como também de alguns ensaios redigidos em El libro de arena (1975).
Assim, o Borges dos escritos céticos passa ao Borges dos escritos de ficção.
Mas ele (Borges) se definia fundamentalmente como um argentino perdido na
metafísica[8].
Tal vez essa afirmação deva ser entendida como sugere Juan Jacinto Muñoz Rengel
que disse que o extravio é a própria metafísica. A hipótese de uma metafísica
como extravio, explorada por Borges, pode nos fazer pensar em um fio condutor
na aparente multiplicidade de versões da relação Borges/filosofia. Assim como
Kant utilizou a metáfora do mar sem orla para se referir à metafísica
que, segundo ele, formulava problemas sem sentido, podemos pensar o caráter
ficcional da metafísica que de acordo com Borges propicia as condições de seu
extravio. Assim, Borges se extravia na multiplicidade de relatos de uma
metafísica como gênero da literatura fantástica.
Programa:
- Uma
introdução à possibilidade de ler filosofia na literatura de Jorge Luis
Borges. (aula presencial antes da
quarentena)
1.1.Elementos
autobiográficos
1.2.A
identidade de um escritor e o gênero literário
1.3.A
filosofia, seu objeto e seu método?
- Ontologia
e ficção em J.L.B. (aulas on-line)
2.1.O
ser e a permanência
2.2.O
tempo e a eternidade
2.3.A
realidade como ironia
- Lógica
e retórica em J.L.B. (aulas
on-line)
3.1.A
identidade e a diferença
3.2.Os
fundamentos retóricos da realidade: a metáfora
- Ciência
e literatura em J.L.B. (aulas
on-line)
4.1.O
estatuto da verdade e da verossimilhança
- Judaismo,
cristianismo e oriente em J.L.B. (aulas
on-line)
5.1.A
cabala e o Golem
5.2.A
biblioteca e o livro de Deus
5.3.As
muralhas, as dinastias e os livros
- Ética
e destino em J.L.B. (aulas on-line)
6.1.A
milonga como ética
6.2.O
valor ético do traidor
- Retomada
dos conteúdos (aulas presenciais)
Modalidade:
aulas expositivas com debate sobre os textos e os temas.
Avaliação:
um trabalho escrito apresentado no final do semestre.
Aulas
de consulta: terça-feira de 14.00 a 18.00 na sala B
45 com horário marcado.
Bibliografia:
ALAZRAKI, J. La prosa narrativa de Jorge
Luis Borges. Madrid: Gredos, 1968.
ARANA, J. La
eternidad de lo efímero. Madrid: Biblioteca Nueva, 2000.
BAREI, S. N. Borges
y la crítica literaria. Madrid: Tauro Ediciones, 1999.
BARILI, A. Jorge
Luis Borges y Alfonso Reyes: la cuestión de la identidad del escritor
latinoamericano. México: FCE, 2000.
BARRENECHEA, A. Mª. La expresión de la irrealidad
en la obra de Borges. BsAs: Paidós,
1967.
BAUCHWITZ, O. F.
Eu, tu e Borges. Natal: Editora
universitária Natal, 2003.
BIOY CASARES, A.
Descanso de caminhantes. Diarios
íntimos. Buenos Aires: Sudamericana, 2001.
BORGES,J.L. Obras
Completas. Vol. I-V. BsAs: Emece Editores, 2000.
BORGES,J.L. Ensaio autogiográfico. São Paulo:
Companhia das Letras, 2018.
BORGES,J.L. El
aprendizaje del escritor. Buenos Aires: Sudamericana, 2014.
BORGES,J.L. Curso de literatura inglesa. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
BORGES,J.L.
& FERRARI, O. Reencuentro. Vol. I e
II Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1986.
BORGES,J.L.
& FERRARI, O. Sobre a filosofia e
outros diálogos. São Paulo: Hedra, 2009.
BULACIO, C.
(ORG.) De labirintos e outros Borges.
Buenos Aires: Victoria Ocampo Ed. 2004.
COSTA, R. DA El humor em Borges. Madrid: Cátedra,
1999.
CUETO, S & GIORDANO, A. Borges y Bioy Casares ensayistas. Rosario: Ediciones Paradoxa,
1988.
HEIDEGGER,M. O
conceito de tempo. In Cadernos de Tradução 2 -USP, 1997.
MONEGAL, E. Borges: uma poética da leitura. São
Paulo: Perspectiva, 1980.
NASCIMENTO, L. Borges e outros Rabinos. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2009.
NUÑO, J. La filosofía de Borges. México, FCE,
1986.
PAGLIAI, L ET. AL. Borges y la ciencia. Buenos Aires: Eudeba, 2004.
REST,J. El laberinto del universo. Borges y el pensamiento
nominalista. Bs As: Librería Fausto,
1976.
ROJO, A. Borges e a mecânica quântica. Campinas:
Editora da Unicamp, 2014.
ROSA, N. El
arte del olvido y tres ensayos sobre mujeres. Rosario: Beatriz Viterbo
Editora, 2004.
_________ La
letra argentina. Buenos aires: Santiago Arcos Editor, 2003.
SARLO, B. Borges,
un escritor en las orillas. Buenos Aires: Ariel, 1998.
TORO, A. de & TORO, F. de El siglo de Borges. Vol. I.
Madrid: Iberoamericana , 1999.
_________________________ Jorge Luis Borges. Pensamiento y saber en el siglo XX. Madrid:
Iberoamericana , 1999.
TORO, A. de & REGAZZONI, S. El siglo de Borges. Vol. II.
Madrid: Iberoamericana , 1999.
VÁZQUEZ, Mª. E. Borges. Imágenes, memorias,
diálogos. Caracas: Monte Ávila, 1977.
[1] REST,J., El laberinto del
universo. Borges y el pensamiento nominalista, Buenos Aires, Librería
Fausto, 1976
[2] BARRENECHEA, A. Mª., La
expresión de la irrealidad en la obra de Borges, Buenos Aires, Paidós,
1967.
[3] ALAZRAKI, J., La
prosa narrativa de Jorge Luis Borges, Madrid, Gredos, 1968.
[4] NUÑO, J., La
filosofía de Borges, México, FCE, 1986.
[6]
BORGES,J.L. Obras Completas. Vol. I, p. 280-1. BsAs: Emece
Editores, 2000.
[7]
BORGES,J.L. Obras Completas. Vol. I, p. 437. BsAs: Emece
Editores, 2000.
[8]
BORGES,J.L. Obras Completas. Vol. II, p. 135. BsAs: Emece Editores,
2000.
Comentários
Postar um comentário