As ruínas circulares


(sobre sonhos sonhados, um sonhador sonha um ser que não sabe que é sonhado)
Com o passar do tempo, o sonhador escuta de outros homens que há um homem em outro templo que pode caminhar pelo fogo sem dano. O homem sabe que este é seu filho e se preocupa da possibilidade de que ele se inteire de que não é um ser humano, senão uma projeção de outrem. De repente, um grande incêndio eclode no templo do sonhador. O homem aceita que tem chegado seu momento de morrer, e caminha para o fogo. Passa pelas chamas sem se queimar, e nesse momento compreende que ele também é uma projeção, um sonho de outro homem.
(Fragmento de Jorge Luis Borges)
Em alguns momentos do seu ensino Lacan nos propõe pensar nossas atitudes, escolhas e modos de ser como pautados pela relação que estabelecemos com um Grande Outro (o pai ou a mãe, mestre, figura ideal, ideal político, religioso ou de qualquer tipo) que estaria nos demandando determinadas atitudes, escolhas e modos de ser. Às vezes tudo se passa como se nossas atitudes, escolhas e modos de ser fossem a resposta (negativa ou positiva) daquele que entendemos como sendo a imposição, aconselhamento ou demanda desse Grande Outro que se dirige a nós com o olhar, com o tom de voz, com um gesto ou com uma palavra. No entanto, às vezes ocorre que aquilo que acreditávamos ser da nossa mais absoluta propriedade descobrimos que já estava presente nesse Grande Outro em relação ao qual nos achávamos diferentes, mas agora percebemos que estamos repetindo.
O desejo é o desejo do Outro e não está longe da alienação.

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