O que dois anos de pandemia (até agora) deixaram?
O que dois anos de pandemia (até agora) deixaram?
No ano de 2020 fomos tomados por algo que não conhecíamos,
não sabíamos, não tínhamos ideia de como seria. O Covid19 parecia algo
longínquo, algo que acontecia na China, longe de casa. Depois foi a hora da
Itália e ficamos surpresos com tantas mortes, mas mesmo assim parecia algo que
não nos atingiria. Depois se espalhou por toda Europa e EUA até que rapidamente
chegou no Brasil. Mesmo assim, a população foi se dividindo em duas partes,
aqueles que olhavam, ficavam atentos, agiam com precaução diante de um fenômeno
de uma doença desconhecida e outros que preferiam ignorar ou, diretamente,
negar. Na medida em que a doença iria tomando conta dos corpos e das vidas mais
próximas nossas reações se apresentaram na forma de angústia, tristeza ou
negação. Nesses casos a negação da realidade é um modo de não ter que lidar com
as frustrações, as insatisfações e as angústias, as tristezas, as perdas e os
desamparos. A pandemia catalisou afetos, sentimentos e emoções, nos mostrou que
não há indivíduos isolados senão comunidades desde onde podemos experimentar a
singularidade de sujeitos que se relacionam afetivamente com outros.
***
As perdas, de emprego, de poupança, de amigos e amigas ou
familiares, de projetos e ilusões nos colocaram diante de um processo de luto
que, se elaborado, nos conduz a outros modos de lidar com as coisas, com os
outros e com nós mesmos. A elaboração dessa posição em cada caso depende de
revisar nossos desejos e interdições, nossas inibições e fantasias.
***
A pandemia nos deixou milhares de mortos na nossa memória,
sequelas no corpo, revelou saídas desesperadas de indivíduos que insistem em
negar o Real como se tivessem o poder (fálico) de se impor com a vontade da sua
ignorância. Em nome da liberdade tem ainda quem reivindica o “direito” de
contagiar os outros com uma doença grave. Mas também estamos em condições de
encontrar nossa singularidade na coletividade.
Daniel Omar Perez,
26/01/2022.
Comentários
Postar um comentário