O amor como experiência maltratada
O amor como experiência maltratada
Parece se ouvir um discurso que coloca o amor, o encontro
com o outro, o encontro gratuito com o outro, como algo da ordem da mera
ilusão. Só os iludidos amam. Às vezes o amor também aparece como algo sem
sentido, como impossível. É provável que seja isso mesmo, que o amor precise de
ilusão, do sem sentido, do impossível para se viver como uma experiência de
(des)encontro erótico. Mas não porque o oposto ao amor seja da ordem do
desiludido, da seriedade, do realista que realmente deveria guiar o sentido das
nossas vidas. Senão porque sustentar o dom, a gratuidade de amar exige uma
posição de um sujeito aberto à contingência, ao inesperado, ao improvável.
Alguém com a coragem do não poder (fálico) de estar na posição de viver em
falta, na incompletude, sem o álibi da ilusão de “eu me amo a mim mesmo e isso
é suficiente”. Todos sabemos que o encerramento narcísico tem um limite. O
narcisismo é constitutivo de nós mesmo, até um certo ponto, até o limite da
falta que aparece no momento do silêncio que se atravessa entre aquilo que
seria o corpo e a imagem do espelho. No encontro gratuito de amor com o outro
não se encontra a complementariedade, não se trata, apenas, de um trabalho em
equipe, aí aparece a diferença que nos habita.
Daniel Omar Perez
27/01/2022
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