Problemas nas ciências humanas e sociais e na filosofia
Para simplificar o engodo das entediantes discussões do pretenso cientificismo que conduz a lugar nenhum
Parece obvio dizer o que é um problema em matemática, física ou química. Mas a mesma questão não parece tão obvia nas ciências humanas e sociais e na filosofia.
O que é um problema nas ciências humanas e sociais?
O que é um problema na filosofia?
Acredito que a resposta dessa questão determina o tipo de conteúdo que deve ser encontrado em um livro ou artigo científico ou filosófico.
A variedade de propostas teóricas nas ciências humanas e sociais e na filosofia compartilham apenas um horizonte sem fronteiras perfeitamente determinadas e objetos que podem não ser os mesmos ou equivalentes. Isso é exatamente o contrário à imprecisão. O rigor que exige a situação provoca desentendimentos mínimos com consequências irreconciliáveis nos resultados. Quando partimos de princípios e conceitos diferentes, a metodologia é diferente e, portanto, o resultado será também diferente. Ainda assim, alguns aspectos podem ser comparáveis, outros não podem ser mensuráveis numa mesma escala. Podemos ainda avaliar os resultados e medir a eficacia entre diferentes teorias. Em outros casos, o resultado pode responder a diferentes objetivos ou diferentes compreensões de objeto e por isso não podem ser comparáveis.
Entendo que definir o objetivo pretendido, declarar os princípios e conceitos com os quais se trabalhará, declarar aquilo que se entende como o acontecimento a ser abordado e apresentar o procedimento metodológico deve ajudar a (1) avaliar a validade dos resultados e (2) saber em que ponto duas matrizes teóricas podem se aproximar ou se distanciar.
Assim, o debate sobre a validade do uso de tal ou qual princípio ou conceito não deve ser realizado em abstrato, como algo em si, mas no interior de um dispositivo teórico perante um problema, um objetivo e um resultado.
O trabalho levado adiante numa situação X pode ser considerado científico na medida em que é possível:
(1) enunciar o dispositivo teórico constituído por princípios, conceitos e regras que me permitem definir e compreender a situação e (2) formular o problema no interior do horizonte definido, (3) declarar o objetivo pretendido com relação ao problema e (4) enunciar o procedimento a ser levado adiante, para, finalmente, (5) mostrar os resultados.
Cada uma das atividades realizadas numa experiência de trabalho pode ser comunicada dessa forma incluindo ainda aqueles elementos irruptivos, fora de padrão que aparecem sem causa cognoscível, como singularidade. Esses elementos devem ser destacados na sua singularidade como resultados que surgem para além do dispositivo conceitual e do método. Isso mostra o alcance e o limite do nosso trabalho. Caberia declarar ainda os limites do dispositivo conceitual e do método, aquilo que essa proposta não alcança, porém, reconhece como relevante. Sabemos que muitas teorias se propõem totalizantes e excludentes, isso faz esse ultimo ponto impossível.
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