A constituição do sujeito a partir das relações de identificação.
PROJETO DE PESQUISA DE
FILOSOFIA E PSICANÁLISE
Título: “A constituição do
sujeito a partir das relações de identificação. Uma abordagem entre a filosofia
kantiana e a psicanálise freudiano-lacanaina”
Resumo: A partir de uma crítica
à noção de identidade individual do sujeito desde elementos da filosofia
moderna e da psicanálise freudiano-lacaniana estabeleceremos como objetivo a
elaboração de uma lógica da identificação que permita dar conta da constituição
do sujeito e sua relação com a verdade. A identidade pessoal, as relações
amorosas e os projetos políticos serão os fenômenos a serem acolhidos desde a
lógica da identificação. A meta é fornecer elementos que nos permitam pensar a
possibilidade da emergência de novas identificações individuais e sociais, bem
como a ação política.
Objetivos:
- Elaborar
uma lógica da identificação que permita dar conta da constituição do
sujeito e sua relação com a realidade a partir de elementos da filosofia
moderna e da psicanálise freudiano-lacaniana desde uma crítica à noção de
identidade individual do sujeito
- Reformular
a pergunta pela realidade desde uma teoria do sujeito a partir dos
conceitos “alienação-separação” em sentido lacaniano.
- A
partir da “lógica da identificação” elaborar uma teoria da identificação
amorosa para além do narcisismo, retomando a noção de dom em Lacan e de
descarga pulsional e laço freudiano-lacaniano.
- A
partir da “lógica da identificação” elaborar uma teoria da identificação
política que apresente dois modelos divergentes: perverso e sublimatório
- Elaborar
uma teoria da “Figura ética”, da “Figura política” e das “Figuras do
feminino” como formas de subjetivação constituidas a partir do estranho, o
gozo e o semblante.
- Apresentar
a possibilidade da pulsão olfativa e respiratória como elemento de laço
identificatório.
Método:
A
filosofia tem se articulado como exercício a partir de um campo heterogêneo de
discursos. Na sua história instituída desde as cátedras universitárias
europeias do século XVII e XIX se retoma sob a forma de poemas, fragmentos,
diálogos, tratados, ensaios, lições, monografias ou relatórios de investigação.
Alguns apelam para o mito fundacional ou para a formalização, uns lançam mão de
um método de construção dedutiva, outros indutiva e outros retórica quando não
a combinação de todos eles. Desde o ponto de vista do gênero textual ou
discursivo só encontramos uma heterogeneidade impossível de reduzir. Seu objeto
também é discordante segundo a época e a escola filosófica em questão. Nossa perspectiva privilegia o entendimento
do exercício filosófico como a indagação acerca das condições de possibilidade
daquilo que se apresenta como verdadeiro em sentido amplo. Entendemos que essa
indagação colocou na modernidade o sujeito como fundamento e seu
desenvolvimento foi a desmontagem dessa posição. Nesse sentido, nos colocamos
em uma tradição conceitual que poderia ser considerada kantiana e desde essa
perspectiva organizamos a história da filosofia em torno da questão da verdade
em relação com o sujeito. Essa história vai de Descartes à psicanálise. A
psicanálise tem sua história de divergências e multiplicidade de perspectivas
tão rica quanto tem a filosofia no mesmo período (o século XX). Entretanto, a
constante de todas as escolas foi o desejo em relação com o individuo dividido
ou o sujeito em questão. A multiplicidade de pesquisas nesse campo ofereceram
resultados que para a problemática do sujeito em relação com a verdade são
muito difíceis de ignorar sem perdermos a própria história contemporânea da
filosofia. Dentro dessa heterogeneidade de escolas entendemos a psicanálise como o dispositivo teórico que permite acolher
a experiência do sujeito em relação com o desejo e as barreiras que o
interditam (ver Perez, 2009). Isso nos coloca numa tradição conceitual que
poderíamos reconhecer como lacaniana. Tanto quanto outras tradições ou linhas
conceituais a psicanálise lacaniana contemporânea se debate internamente numa
série de correntes. Tal como nos relata Laclau (2009), a influência de Lacan na
França tem sido especialmente clínica, nos países anglo-saxões a influência se
concentrou no eixo literatura-cinema-feminismo. Por outro lado, Laclau destaca
duas gerações interpretativas: a velha escola de Mannoni, Leclaire e Safouan
que privilegiam os problemas clínicos e a função do Simbólico e a geração mais
jovem de Jacques Alain Miller, Michel Silvestre e Alain Grosrichard que tem
tratado de formalizar a teoria lacaniana, diferenciando as etapas do ensino de
Lacan e dando importância central para o Real como o que resiste à simbolização.
Paralelamente, a interpretação marxista-estruturalista feita por Althusser e
Michel Pêcheux destaca a noção de sujeito lacaniano como compatível com o
materialismo histórico. Avançando nessa linha a escola eslovena de Zizek
utiliza as categorias lacanianas para uma reflexão filosófico-política (Laclau,
2009, 11 e ss.). Nesse horizonte, entendemos
nossa tarefa essencialmente como exercício de formalização a partir de
elementos conceituais da filosofia kantiana, da lógica simbólica e dos matemas,
modelos, esquemas, grafos e topologia lacanianas que permita acolher a
experiência do sujeito em relação com o desejo e as barreiras que o interditam.
Isto nos autoriza a elaborar as condições de possibilidade da constituição do
sujeito e da verdade a partir das relações de identificação.
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