Como viver juntos?

Como viver juntos?
Esse é o título de um seminário que Roland Barthes iniciou em 12 de janeiro de 1977 no Collége de France. O semiólogo diz pensar a questão a partir de Nietzsche e Deleuze. Propõe a vida juntos a partir da noção de ritmo. Viver com o outro seria algo assim como manter um mesmo ritmo e a separação se daria quando os ritmos de cada um começam a soar diferente. Então, poderíamos dizer nós, cada um vai com sua música a outra parte.
Em 1983, Maurice Blanchot publica "A comunidade inconfessável" repensando a vida em comum a partir de algumas reflexões de Georges Bataille e Jean -Luc Nancy.
Em 1986, Jean-Luc Nancy continua o diálogo com o livro "A comunidade inoperada". Insiste no incomum da comunidade, na comunidade dos sem comunidade, na singularidade sem conciliação possível em relação à vida em comum.
Em 1990, Giorgio Agamben propõe " A comunidade que vem" e aborda o problema da vida em comum passando da ontologia à ética. Parece estar usando termos de Heidegger e de Lacan.
Em 1995, Tzvetan Todorov publica "A vida em comum. Ensaio de antropologia geral" onde retoma o problema desde a tradição filosofia europeia e algumas teorias psicológicas e psicanalíticas
Em 1998, Roberto Espósito publica "Comunitas. Origem e destino da comunidade", com um prefácio de Jean-Luc Nancy. Desde o medo de Hobbes e a ley de Kant nos conduz à experiência heideggeriana de ser-com.
Em 1999, Peter Sloterdijk publica "Regras para o parque humano. Resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo", onde mostra como nossa comunidade fabrica seres humanos muito antes da manipulação genética, desde as bibliotecas e escolas romanas.
Em 2010, Byung-Chul Han publica "A sociedade do cansaço" propondo uma comunidade de seres cansados, queimados neuronialmente que romperam seus laços sociais. Não há mais comunidade, apenas solidões em depressão, pânico ou hiperatividade.
Esse percurso me faz retornar a Freud. Como viver juntos? Como sustentar o desejo e suportar a falta no Outro. Talvez essa pergunta não tenha uma resposta e sim uma tarefa. Em algum ponto a filosofia passa de ser um trabalho intelectual ao cultivo de um jardim.

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