TERRORISMO DE ESTADO. A eliminação sistemática de pessoas e os limites do político. Breve ensaio sobre a ação política.

TERRORISMO DE ESTADO


A eliminação sistemática de pessoas e os limites do político.
Breve ensaio sobre a ação política.

Daniel Omar Perez

Introdução
Este trabalho tem como objetivo fornecer elementos para pensar a ação politica e faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre identificações e afetos na vida em comum. Porém, o ponto de partida circunstancial que motiva a redação específica deste texto é o surgimento de novos documentos sobre os voos da morte na Argentina[1]. Refere-se a um verdadeiro ato de perversão que consistia em jogar pessoas previamente sequestradas e torturadas desde um avião ao mar, e que, juntamente com uma série de outros eventos não menos bizarros, conformaram o Terrorismo de Estado na Argentina (1976-1983). Este foi um plano que não foi desenvolvido isoladamente naquele país, mas na grande maioria dos países do continente, inclusive nos EEUU. Talvez deveria-se pensar mais apuradamente a relação entre os assassinatos políticos da década de 60 (desde Kennedy e Martin L. King), a eliminação dos panteiras negras nos EEUU, a aplicação dos golpes de Estado e os planos de extermínio da guerra anti-insurgente na América Latina para observar a relação entre o padrão da ação política desses anos e as práticas de eliminação sistemática. Mas o que me interessa é menos explicar o que aconteceu na época dos golpes de Estado e mais pensar os elementos da ação política desde um dispositivo conceitual que possa evitar repetir o cenário no qual aquelas forças possam voltar a se tornar hegemônicas e o suficientemente articuladas como para desenvolver seu projeto político e suas práticas de eliminação sistemática.
Para isso, abordaremos sumariamente:
  1. O conceito do político (instabilidade, homogeneidade e hegemonia).
  2. A sociedade e o Estado (indivíduos, grupos e identificação).
  3. O Estado e a política do usufruto.
  4. A identificação e a descarga afetiva nas suas modalidades perversa e sublimatória, onde a modalidade perversa elimina o próprio desejo.
  5. A sublimação como saída que sustenta a possibilidade do desejo na sua diferença.


Do conceito do político ao problema da eliminação do outro
O conceito do político é definido por Carl Schmitt a partir da relação amigo-inimigo e sua dinâmica estaria dada pelo combate (SCHMITT, 1963)[2]. Esta oposição reconhece uma instabilidade fundamental, uma disputa entre interesses divergentes, um conflito entre grupos, bandos ou partes, mas também inclui o assassinato político como modo de resolução do conflito.
O mesmo Schmitt que em 1932 militou nas eleições alemãs contra a hegemonia dos nazistas no parlamento, após receber uma carta convite de Heidegger em 22 de agosto de 1933 para colaborar com o projeto político da NSDAP na universidade[3] (FAYE, 2009, pp. 260-61), em 1934, defendeu claramente e sem ambiguidade a eliminação do outro no caso da “noite das facas longas” (Nacht der langen Messer) que acabou em assassinato de próprios e alheios (Schmitt, 1934).
Assim sendo, o conceito do político schmittiano não só incluiria o combate entre inimigos senão também a eliminação do outro. Isto nos permite dizer que, a relação de oposição amigo-inimigo, segundo pode ser pensado em Schmitt, não buscaria apenas a hegemonia na disputa, mas sim, a homogeneidade do campo. A passagem da luta pela hegemonia (no parlamento), onde o outro não pode ser eliminado, para a busca da homogeneidade (na “noite das facas longas”) onde o outro pode ser retirado da disputa pela via do assassinato é decisiva e faz toda a diferença.
Este modelo de pensamento é tão sugestivo quanto desastroso para pensar o conceito do político. Se no conceito do político se reconhece como ponto de partida um campo de instabilidade e se funda, antes que em um conflito ou em um consenso, nesse campo de instabilidade que pode possibilitar tanto conflitos quanto consensos entre sujeitos com interesses, desejos e necessidades convergentes ou divergentes, a eliminação de pessoas e seu exercício sistemático, como modo de resolução do conflito, procuraria acabar com a própria instabilidade que o funda, como se fosse possível alcançar uma homogeneização do campo.
Esse tipo de conceitualização e estratégia busca necessariamente o fim da política como ação levada adiante num campo de instabilidade e disputa pela hegemonia, na realização de uma máquina de guerra, de uma fábrica de cadáveres[4], de um Estado Perverso onde o outro não é o adversário necessário e irredutível da disputa, mas o resto a ser eliminado em busca da homogeneidade.
No caso argentino (1976-1983) o combate contra o inimigo, como inimigo interno a ser eliminado para alcançar a homogeneidade se realizou por meio do exercício do Terrorismo de Estado como um “processo de reorganização nacional” (nome dado pelos próprios militares e civis no poder de facto) que rearticularia a sociedade desde sua base econômica, industrial e financeira até sua estrutura social e cultural. Nesse sentido, os operativos de sequestro, roubo, roubo de bebês, tortura, fuzilamento, desaparição de pessoas e assassinatos não foi um excesso circunstancial, nem se tratou de eventos exagerados. Não se tratou de uma estratégia entre outras, mas da única saída possível para a busca da homogeneidade desde o exercício do poder do Estado.
Para explicar esta afirmação nos demoraremos brevemente em alguns conceitos.

A Sociedade, o Estado e a identificação
O mito liberal do indivíduo bipolar, constituído por necessidades biológicas e representações mentais, que toma decisões racionais em função das suas necessidades e deste modo entra em sociedade estabelecendo um pacto não é apenas um mito, mas um modo de justificar o funcionamento do Estado burguês. Trata-se de uma interpretação bastante recortada do Jusnaturalismo que exclui a vida em comum como fundo originário da aparição do indivíduo e do cidadão. Este modelo de interpretação permite opor a repressão do Estado à liberdade do indivíduo. Isto permite também reivindicar duas ações determinantes do poder do Estado, a saber: reduzir sua intervenção em relação à liberdade individual e reivindicar seu exercício coercitivo quando esta mesma liberdade se encontrasse ameaçada pelo caos e a desordem social. Nesse sentido, opõe-se a identidade do indivíduo e sua liberdade à alienação imposta pelo Estado ou pela desordem. A oposição identidade-alienação, onde o primeiro termo é o privilegiado e hierarquicamente superior e o segundo é depreciado, reduz o Estado a uma máquina de repressão em função de uma suposta liberdade individual natural como elemento de identidade do sujeito.
Contrariamente ao mito liberal, podemos pensar os sujeitos não como indivíduos isolados que tomam decisões racionais em função das suas necessidades biológicas, mas como sempre já dados em um clã, tribo, horda ou grupo. A mãe não pergunta para o bebê se ele quer ou não entrar em sociedade, se ele quer ou não satisfazer de tal ou qual maneira suas necessidades biológicas, ele não tem alternativa. O indivíduo, para que se constitua como tal, precisa antes de qualquer coisa se alienar ao desejo do outro. A alienação aqui cumpre uma função constitutiva e não pode ser mais degradada a segundo termo. Aquele que exerce a função materna não só nutre a criança dando resposta às necessidades biológicas, mas também erogeniza o corpo (FREUD, 1988) dando sentido àquilo que aparece, por exemplo, na forma de choro. O choro da criança é resignificado pelo desejo da mãe como fome, como mal-estar estomacal, como sono, etc. Nesse processo, a criança é nomeada e se lhe exige que responda desde esse lugar. Assim, a criança se aliena tanto ao desejo da mãe (que dá sentido às suas necessidades) quanto ao significante (paterno) que a nomeia e possibilita a articulação da relação entre o desejo e a lei (LACAN, 1997). Fora do âmbito familiar, a identificação significante e a satisfação pulsional também serão os elementos que permitirão a criação do grupo, do projeto político, da vida em comum.
O sujeito não possue uma identidade pré-estabelecida senão que surge como efeito de um processo de identificação (LACAN, 1961). Assim, se reconhece em relação com o outro mediante uma identificação significante em torno do qual se articulam outros significantes produzindo uma cadeia significante, isto é, o sentido num discurso ou narrativa. É a partir desse discurso que o sujeito aparece como seu efeito, isto é, um sujeito alienado ao discurso do Outro. Ao significante lhe corresponde uma carga afetiva, ou seja, o sujeito investe libidinalmente na identificação. Entre o significante e a carga afetiva se articulam os objetos de desejo com os quais o sujeito se identifica e descarrega. Dessa forma o indivíduo aparece como sujeito de um discurso e uns modos de descarga afetiva que o faz parte de um grupo, clã, família etc. Os grupos políticos também podem ser acolhidos nesse dispositivo conceitual.[5] Isto nos permite dizer, entre outras coisas, que a disputa política não se dá entre indivíduos ou entre indivíduos e o Estado, mas entre diferentes grupos e discursos e não opera apenas por argumentação, mas por identificação significante e descarga afetiva. A identificação significante e a descarga afetiva estabelecem o laço a partir do qual se argumenta.

O Estado e a política do usufruto
Chamamos aqui de Estado em sentido geral às instituições político-juridicas de uma sociedade produzidas a partir de grupos identitários organizados em torno de um projeto político. Uma sociedade, constituída por indivíduos e grupos de indivduos, organizada institucionalmente em sistemas de legislação e de coerção, se sustenta a partir de sistemas de repressão e controle de circulação dos desejos dos indivíduos e dos grupos de indivíduos que a integram. Nesse sentido, o Estado não pode ser concebido como aparelho de poder oposto aos indivíduos que passivamente aceitam seu disciplinamento, controle ou vigilância senão como campo de disputa, como o lugar onde a ação política se exerce fundada no campo de instabilidade originária que a torna possível .  Isto significa também que consideramos a sociedade institucionalizada como o modo em que os indivíduos e grupos de indivíduos usufruem ou são inibidos na sua demanda pulsional. Isto é, as instituições do Estado e a sociedade institucionalizada conformam o modo em que circulam e se satisfazem ou se inibem os desejos e a política não é outra coisa que a disputa dos diferentes modos de usufruto.

A identificação e a descarga afetiva
Toda sociedade institucionalizada se sustenta com mecanismos de produção, repressão e controle de formas de satisfação. Os mecanismos de repressão e controle que instituem a sociedade exigem a adesão (alienação) dos indivíduos em relações de identificação para poder ordenar a sociedade. Dito de outro modo, para participar da sociedade instituída, o indivíduo deve renunciar a determinados encaminhamentos pulsionais (canibalismo, incesto etc.) e aderir (se alienar) a outros (FREUD, 1988b).
Estes renunciamentos pulsionais podem ser ordenados de duas maneiras diferentes:
1. De modo a conduzir a saídas sublimatórias e favorecer a circulação dos desejos por outras vias, recriando o circuito pulsional e a variedade de objetos de satisfação parcial (FREUD, 1988c; LACAN, 1997b). Isto permitiria conviver com a instabilidade entre os conflitos e os concensos em uma sociedade do usufruto;
2. De um modo decididamente repressivo e então a saída será perversa. Neste caso, os mecanismos de repressão e controle pulsional exigem que o indivíduo deva renunciar à sua satisfação pulsional em relações de identificação fechadas onde aquilo que é excluido, o inimigo, é reduzido a resto, a escória, a excremento e, portanto, pode ser eliminado e não só, eliminado sistematicamente.
Esses dois modos (sublimatório e perverso) são os dois extremos de um leque de possibilidades a partir das quais se articulam os modos de encaminhamento e satisfação pulsional em sociedades institucionalmente organizadas. Assim, os projetos políticos como modos de entender o encaminhamento e a satisfação pulsional podem propor modelos institucionais mais ou menos sublimatórios ou repressivos.

Repressão e gozo perverso
As organizações políticas e os governos que exigem fortes mecanismos repressivos para incluir o sujeito nas suas relações de identificação inibem um grande leque de possibilidades de satisfação em favor de uma promessa de gozo absoluto. Eliminar o resto é a empreendimento, o compromisso e a esperança de satisfação. Há uma promessa de gozo absoluto nessa eliminação do resto, um gozo perverso[6]. Quanto mais repressivo o sistema de identificação menos sublimatório poderá ser o encaminhamento e a satisfação pulsional. O sujeito deve reprimir seus encaminhamentos pulsionais para se identificar e, desse modo, encontrar reconhecimento no Outro, mas, em relação com aquilo que é excluído, e por isso mesmo, ele não tem barreiras.  Esse gozo perverso é o que sustenta os mecanismos de eliminação sistemática de pessoas na Argentina de 1976-1983 e na Alemanha da solução final. Mas o gozo perverso que determina esse mecanismo de operação não se reduz a um indivíduo com vontade de fazer o mal, senão que se sustenta em uma infraestrutura. O mecanismo da perversão é fundamentalmente uma instalação que precisa de regras estritas e suporte material. Podemos ver em Sacher-Masoch ou Sade, onde a cena exige parceiros, ajudantes, roupas, ambiente adequado, alimentos, bebidas, regras que todos devem obedecer, posições que todos devem respeitar etc. A saída perversa não se realiza senão ordenadamente. Não há perversão sem a cena completa e sem a colaboração dos parceiros.
No Estado Perverso, onde a redução à escória do outro é uma prática sistemática, é preciso o “pervertido” como o ator da cena, mas também de toda uma infraestrutura que o suporta. No caso da solução final, foi necessário logística, tecnologia, como a empresa Man e a empresa Siemens para a construção de motores e fornos crematórios para os campos de extermínio, assim como técnicos e ajudantes para sua instalação, avaliação do consumo de combustível necessário, sistemas de financiamento, etc, para que o gozo perverso da eliminação do judeu como resto fosse possível. No caso do terrorismo de Estado na Argentina, não bastaram apenas os torturadores e os sequestradores, foi preciso que uma infraestrutura de tecnologia, logística e financiamento fornecesse o suporte. Por exemplo, os roubos de quase 500 bebês de mulheres sequestradas e torturadas pelo terrorismo de Estado[7] exigiram médicos, enfermeiras, advogados e juízes para completar o cenário.
Para poder exercer a prática política como o jogo de interesses que se pauta em um campo de instabilidade fundamental é preciso não apenas afastar o “pervertido” em favor de exercícios sublimatórios de satisfação, em favor de disputas hegemônicas ou na busca de consensos, mas também desmontar o dispositivo da perversão desde sua infraestrutura. Tanto a figura do pervertido, quanto a do cínico e do indiferente, que dão suporte à cena, devem ser desfavorecidas na sua possibilidade de aparição. Isto implica uma ação política que recrie novas e variadas formas de satisfação pulsional parcial e na recriação de novas identidades.

A sublimação e o reconhecimento das novas identidades
As organizações políticas e os governos cujo regime de renúncia pulsional se articula com o favorecimento de diversos modos de encaminhamento e satisfação e com o reconhecimento de diversos modos de identificação inibe a saída perversa e a instauração de seu cenário. A saída sublimatória se realiza em ações políticas, em políticas públicas capazes de dar um mínimo de satisfação à demanda pulsional e de reconhecer a multiplicidade de relações de identificação que possibilitem a circulação do desejo. O reconhecimento da demanda pulsional e da identificação significante constituem elementos fundamentais da ação política. O reconhecimento do matrimônio igualitário, o reconhecimento de direitos aos excluídos, o reconhecimento dos povos originários recriam novas identificações significantes sobre a base de antigas demandas, permitem o reconhecimento de novos objetos de desejo e possibilitam uma política do usufruto ou do gozo parcial. Os grupos e projetos políticos divergem e convergem nos modos em como entendem os modos de usufruir numa sociedade institucionalizada.

Referências
FAYE, E. Heidegger. La introducción del nazismo en la filosofia. Em torno a los seminarios inéditos 1933-1935. Madrid: Ediciones Akal, 2009.
FREUD, S. Tres ensayos para uma teoria sexual. IN Obras Completas, volumen 6. Buenos Aires: Hyspamerica, 1988.
_______ Totem y tabú. IN Obras Completas, volumen 9. Buenos Aires: Hyspamerica, 1988b.
_______ Los instintos y sus destinos. IN Obras Completas, volumen 11. Buenos Aires: Hyspamerica, 1988c.
HEIDEGGER, M. Bremer und Freiburger Vortrage. GA 79. Frankfurt: M, Klostermann. 1994.
LACAN, J. O seminário 3. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1997.
_______ O seminário 7. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1997b.
_______ O Seminário 9. Texto datilografado, foi consultada a tradução em português e em espanhol, 1961.
_______ O seminário 16. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2008.
LACLAU, E. La razón populista. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica, 2008.
MOUFFE, Ch. Em torno a lo político. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica, 2009.
SAFRANSKI, R. Heidegger. Um mestre da Alemanha entre o bem e o mal. São Paulo: Geração Editorial, 2000.
SCHMITT, C. Der Begriff des Politischen. Berlin: Duncker und Humboldt, 1963.
­­­______ “Der Füher schützt das Recht” IN Deutsche Juristen Zeitung, XXXIX, 1934 n. 15, pp. 945-950.
STRAVAKAKIS, Y. Lacan y lo político. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2007.
______  La izquierda lacaniana. Psicoanálisis, teoria, política. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica, 2010.
VERBITSKY, H. El vuelo. Buenos Aires: Editorial Planeta Argentina, 1995.



[1] Ver Horacio Verbitsky (1995)
[2] O texto original de Carl Schmitt é de 1932.
[3] Ver também Rüdiger Safranski (2000, p. 289)
[4] Expressão de Martin Heidegger (1994, p. 56).
[5] Existe literatura sobre essa linha de interpretação que leva adiante análises e debates. Ver Ernesto Laclau (2008), Chantal Mouffe (2009), Yannis Stavrakakis (2007, 2010)
[6] Utilizo a noção de “gozo perverso” por oposição a “sublimado” a partir da leitura de Lacan em O Seminário 7 (Lacan 1997b). Nesse sentido, pode se entender o “gozo perverso” como promessa de “gozo absoluto” pela parte e o “gozo sublimado” como um “gozo parcial” em “objetos parciais” de satisfação como pode ser derivado da leitura de O Seminário 16 (Lacan 2008).
[7] O terrorismo de Estado na Argentina sequestrou em torno de 500 bebês de mulheres sequestradas e torturadas em centros de tortura. As crianças tiveram sua identidade biológica trocada e muitos deles foram criados como filhos biológicos dos próprios assassinos dos pais. A organização Abuelas de Plaza de Mayo já conseguiu recuperar a identidade de mais de 100 netos.

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