UM NOVO LIVRO "ONTOLOGIA SEM ESPELHOS"
Acabamos de finalizar as correções de um novo livro que já foi para a editora. "Ontologia sem espelhos" escrito a seis mãos por Daniel Omar Perez, Francisco Bocca e Josiane Bocchi. O livro se baseia num diálogo entre as ideias de diferentes pensadores modernos de Descartes a Freud (seguindo pelo caminho de Locke, Berkeley e Kant) à luz de algumas interrogações contemporâneas tanto da filosofia analítica quanto da psicanálise. Trata-se de interrogar a pergunta pela realidade.
A pergunta pela Realidade
O que é a realidade? Como uma
pergunta desse tipo é possível?
O objetivo deste livro é nos prepararmos para a interrogação acerca da
realidade. Por isso, antes de responder e avançar positivamente preferimos nos
deter e apontar para a própria pergunta. Assim sendo, ensaiamos a busca de
alguns elementos das condições de possibilidade da sua formulação. Para
alcançarmos o nosso objetivo desenvolvemos a apresentação do resultado da
pesquisa em três abordagens e uma conclusão.
Num primeiro enfoque do problema a tarefa se coloca na relação
literatura-filosofia. A questão acerca do real aparece no plano da narrativa e
do jogo da argumentação, isto é, da linguagem. Para isso usamos as ideias de
Jorge Luis Borges e suas especulações sobre a realidade tanto nas ficções
literárias quanto em relação à própria escrita filosófica. Numa segunda
perspectiva o assunto é colocado em relação a quem pergunta e seu objeto. Por
isso achamos pertinente usar alguns conceitos e dispositivos teóricos da
filosofia moderna e suas objeções, especialmente em Descartes, Berkeley e Kant.
No terceiro momento, indicamos o ponto no horizonte onde o fracasso das
pressuposições anteriormente reveladas impulsiona a tentativa de uma nova
formulação da pergunta pela realidade. O recurso da psicanálise se apresenta
como a possibilidade de marcar o fim de uma época e abertura de uma nova pauta
de trabalho. Ao final nos interrogamos o
que é a realidade enquanto pergunta. Como uma pergunta desse tipo é
possível?
Nosso trabalho revela que a pergunta pela realidade supõe uma linguagem
(isto é, um conjunto de conceitos, regras e argumentações) e um sujeito (desde
onde se enuncia o interrogante). Linguagem articulada em conceitos e argumentos
e Sujeito da enunciação se conformam num dispositivo teórico que possibilita a
pergunta e a eventual resposta.
Na avaliação da articulação conceitual que os filósofos nos propõem
descobrimos dois elementos fundamentais: uma ficção originária e a pressuposição
de interior/exterior. O recurso da ficção originária é geralmente algum
tipo de postulado, axioma ou conceito que ordena todos os outros num
dispositivo. A pressuposição de interior/exterior conforma o plano tomado como
inquestionável. A partir dele é possível localizar sujeito e objeto, realidade
e imaginação, percepção e alucinação e todas as relações de oposição ordenadas
no dispositivo. Freud se defrontou com a fragilidade de algumas ficções
originárias e propôs outras. Da mesma forma colocou em questão a geometria da
superfície na qual se formula a pergunta e a tentativa de resposta sobre a
realidade. Na avaliação do sujeito que enuncia a pergunta observamos que este
se constrói em relação com o espaço que se supõe e as ficções conceituais que
se propõem. Nesse sentido, Freud se vê forçado a repensar não só os conceitos e
as relações de determinação causal, mas também a identidade do sujeito e o
estatuto da relação interior/exterior.
Sem indagarmos o dispositivo teórico que permite a pergunta e a resposta
qualquer avanço em ontologia se revela arbitrário. Por isso, antes de responder
à pergunta o que é a realidade? devemos
observar suas condições de possibilidade: que tipo de ficções usamos para
ordenar o campo conceitual, que tipo de relações de determinação causal fazemos
funcionar entre os eventos, como pensamos a espacialidade e o tempo onde se
localizam os elementos da nossa questão e qual é o lugar do sujeito da
enunciação da pergunta e da resposta.
O que é ontologia?
A ontologia é uma disciplina filosófica que pode ser definida como a
ciência do ser. Abordar filosoficamente aquilo que é implica responder à pergunta: porque
há algo e não nada? Quando se responde ao porquê desse algo se
define o algo como algo determinado
em geral. Esse algo determinado em geral
é o que chamamos de realidade. O modo
em que concebemos a determinação desse algo em geral se faz desde um lugar.
Damos o nome de sujeito a este lugar
desde onde perguntamos pela determinação em geral desse algo e estabelecemos o
modo em que se concebe. Assim, podemos dizer que alguém enquanto sujeito com alguma linguagem se pergunta: o que
é a realidade?
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