Ontologia sem espelhos. Ensaio sobre a realidade.
A pergunta pela Realidade
O
que é a realidade? Como uma pergunta desse tipo é possível?
O
objetivo deste livro é nos prepararmos para a interrogação acerca da realidade.
Por isso, antes de responder e avançar positivamente preferimos nos deter e
apontar para a própria pergunta. Assim sendo, ensaiamos a busca de alguns
elementos das condições de possibilidade da sua formulação. Para alcançarmos o
nosso objetivo desenvolvemos a apresentação do resultado da pesquisa em três
abordagens e uma conclusão.
Num
primeiro enfoque do problema a tarefa se coloca na relação literatura-filosofia.
A questão acerca do real aparece no plano da narrativa e do jogo da
argumentação, isto é, da linguagem. Para isso usamos as ideias de Jorge Luis
Borges e suas especulações sobre a realidade tanto nas ficções literárias
quanto em relação à própria escrita filosófica. Numa segunda perspectiva o
assunto é colocado em relação a quem pergunta e seu objeto. Por isso achamos
pertinente usar alguns conceitos e dispositivos teóricos da filosofia moderna e
suas objeções, especialmente em Descartes, Berkeley, Locke e Kant. No terceiro
momento, indicamos o ponto no horizonte onde o fracasso das pressuposições
anteriormente reveladas impulsiona a tentativa de uma nova formulação da
pergunta pela realidade. O recurso da psicanálise se apresenta como a
possibilidade de marcar o fim de uma época e abertura de uma nova pauta de
trabalho. Ao final nos interrogamos o que é a realidade enquanto
pergunta. Como uma pergunta desse tipo é possível?
Nosso trabalho revela que a pergunta pela realidade supõe uma
linguagem (isto é, um conjunto de conceitos, regras e argumentações) e um
sujeito (desde onde se enuncia o interrogante). Linguagem articulada em
conceitos e argumentos e Sujeito da enunciação se conformam num dispositivo
teórico que possibilita a pergunta e a eventual resposta.
Na avaliação da articulação conceitual que os filósofos nos
propõem descobrimos dois elementos fundamentais: uma ficção originária e
a pressuposição de interior/exterior. O recurso da ficção originária é
geralmente algum tipo de postulado, axioma ou conceito que ordena todos os
outros num dispositivo. A pressuposição de interior/exterior conforma o plano
tomado como inquestionável. A partir dele é possível localizar sujeito e
objeto, realidade e imaginação, percepção e alucinação e todas as relações de
oposição ordenadas no dispositivo. Freud se defrontou com a fragilidade de
algumas ficções originárias e propôs outras. Da mesma forma colocou em questão
a geometria da superfície na qual se formula a pergunta e a tentativa de
resposta sobre a realidade. Na avaliação do sujeito que enuncia a pergunta
observamos que este se constrói em relação com o espaço que se supõe e as
ficções conceituais que se propõem. Nesse sentido, Freud se vê forçado a
repensar não só os conceitos e as relações de determinação causal, mas também a
identidade do sujeito e o estatuto da relação interior/exterior.
Sem indagarmos o dispositivo teórico que permite a pergunta e a
resposta qualquer avanço em ontologia se revela arbitrário. Por isso, antes de
responder à pergunta o que é a realidade? devemos observar suas
condições de possibilidade: que tipo de ficções usamos para ordenar o campo
conceitual, que tipo de relações de determinação causal fazemos funcionar
entre os eventos, como pensamos a espacialidade e o tempo onde se localizam os
elementos da nossa questão e qual é o lugar do sujeito da enunciação da
pergunta e da resposta.
O que é ontologia?
A ontologia é uma disciplina filosófica que pode
ser definida como a ciência do ser. Abordar filosoficamente aquilo que é implica
responder à pergunta: porque há algo e não nada? Quando se responde ao porquê
desse algo se define o algo como algo determinado em geral.
Esse algo determinado em geral é o que chamamos de realidade. O
modo em que concebemosa determinação desse algo em geral se faz desde um lugar. Damos o
nome de sujeito a este lugar desde onde perguntamos pela determinação em
geral desse algo e estabelecemos o modo em que se concebe. Assim, podemos dizer
que alguém enquanto sujeito com alguma linguagem se pergunta: o
que é a realidade?
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