UFRJ, 26 e 27 de novembro, sobre Terrorismo


Encontro Internacional Terrorismo de Estado. Extermínio, intimidação, exclusão

Programação e Título das Comunicações : Dia 26  de novembro de 2012
 

14:00 Daniel Omar Perez
A eliminação sistemática de pessoas e os limites do político

14:40  Simeão Donizeti Sass
O Terror Soberano

15:20 Beatriz Porcel
"La imagen del infierno" revisitada

16:00 INTERVALO

16:20  Edson Passetti
O terror e o terrível

17:00  André Macedo Duarte
Terrorismo de Estado e biopolítica: fronteiras cinzentas

17:40 Roberto Nigro
Terrorisme d'état et coup d'état. Formes de gouverner à l'âge contemporain

Encerramento dos trabalhos do dia  às 18:30.

 Dia 27 de novembro de 2012

14:00 Diogo Sardinha
Uma resposta terrorista ao terrorismo de Estado: o que acontece depois que descobrimos como nos tornamos aquilo que somos

14:40 Thiago Rodrigues
Terror e Guerra, duplos na política

15:20 Rossano Pecoraro
Estatização dos corpos e mundo dos corpos

16:00 INTERVALO

16:20 José Luís Câmara Leme
Terror e a racionalidade governamental

17:00  Guilherme Castelo Branco
Sobre a humilhação

17:40 Horacio Lugán Martinez
 Linguagem da democracia, linguagem da anistia

Encerramento do Encontro às 18:30.
 
Título da Palestra: A eliminação sistemática de pessoas e os limites do político
 
Resumo: O conceito do político é definido por Carl Schmitt a partir da relação amigo-inimigo e sua dinâmica estaria dada pelo combate. Esta oposição reconhece uma instabilidade, uma disputa entre interesses, um conflito, mas também inclui o assassinato político como modo de resolução do conflito. Assim sendo, o combate entre inimigos incluiria a eliminação do outro. Este modelo de pensamento é tão sugestivo quanto desastroso para pensar os limites do político. Se o político se funda, antes que em um conflito ou em um consenso, em um campo de instabilidade, a eliminação de pessoas e seu exercício sistemático, como modo de resolução do conflito, procuraria eliminar a própria instabilidade que o funda, como se fosse possível alcançar uma homogeneização do campo. Esse tipo de conceitualização e estrategia leva ao fim da política na realização de um Estado Perverso. Chamamos Estado aqui em sentido geral a uma sociedade de individuos organizados em instituições político-juridicas. Uma sociedade organizada se sustenta a partir de sistemas de repressão e controle de circulação dos desejos dos individuos que a integram. Esses mecanismos de repressão e controle exigem a adesão dos individuos em relações de identificação para poder ordenar a sociedade. Para participar da sociedade o individuo deve renunciar a determinados encaminhamentos pulsionais (canibalismo, insesto etc.). Estes renunciamentos pulsionais podem ser ordenados de duas maneiras diferentes: 1. A modo de conduzir a saídas sublimatórias e favorecer a circulação do desejos por outras vias, recriando o circuito pulsional e a variedade de objetos de satisfação parcial, isto permitiria conviver com a instabilidade entre os conflitos e os concensos em uma sociedade do usufruto; 2. De um modo decididamente repressivo e então sua saida será perversa. Os mecanismos de repressão e controle pulsional exigem que o individuo deva renunciar à sua satisfação pulsional em relações de identificação fechadas onde aquilo que é excluido, o inimigo, é reduzido a resto,a escoria,a fezes, e portanto, pode ser eliminado, e eliminado sistematicamente. Há uma promessa de gozo absoluto nessa eliminação do resto, um gozo perverso. Esse gozo perverso é o que sustenta os mecanismo de eliminação sistemática de pessoas na Argentina de 1976-1983 e na Alemanha da solução final. Mas o gozo perverso que determina esse mecanismo de operação não se reduz a um indivíduo com vontade de fazer o mal, senão que se sustenta em uma infra-estrutura. O mecanismo da perversão é fundamentalmente uma instalação que precisa de suporte. Podemos ver Masoch ou Sade, a cena exige parceiros, ajudantes, roupas, ambiente adequado, alimentos, bebidas etc. Não há perversão sem a cena completa. No Estado Perverso, onde a redução a escoria do outro é uma prática sistemática, é preciso do “pervertido” como o ator da cena, mas também de toda a infra-estrutura. No caso da solução final, foi preciso de logística, de tecnologia, da empressa Man e da empresa Siemens para fazer motores e fornos crematórios para os campos de exterminio, de técnicos, ajudantes, sistemas de financiamento etc para que o gozo perverso da eliminação do judeu como resto fosse possível. No caso do terrorismo de Estado na Argentina, não bastaram apenas os torturadores e os sequestradores, foi preciso que uma infra-estrutura de tecnologia, logistica e financiamento desse suporte. Para poder exercer a prática política como o jogo de interesses que se pauta em um campo de instabilidade fundamental é preciso não apenas afastar o “pervertido” em favor de exercícios lúdicos de satisfação, em favor de disputas hegemônicas ou na busca de consensos, mas também desmontar o dispositivo da perversão desde sua infra-estrutura.
 
 

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